sábado, 16 de fevereiro de 2008

Pragas da língua

Acreditem, há muitas.

Talvez sejam elas as responsáveis por tornar nossa língua tão... estimulante!

Uma delas é a confusão com parônimos.

Nada de nome feio! Parônimos são palavras com som igual que têm significados diferentes.

Uma dupla das mais céleres e célebres é iminência/eminência.

Como distingui-las?

Mole. Iminência significa o que está prestes a acontecer. Por isso, vale a dica abaixo:

- Ih! Aquele avião vai cair!
- Ah! Então ele está na ih!minência de um acidente.

Já uma eminência é alguém importante, respeitado, como um bispo.

Uma curiosidade

Muitos dos erros no livro das princesas da Disney sugerem, com boa vontade, uma defasagem por parte de quem o escreveu ou traduziu, sei lá.

Há milênios, escrevíamos sòzinho. Esse acento indicava o modo como deveríamos pronunciá-lo: só-zi-nho, e não sô-zi-nho.

Esses acentos foram caindo ao longo do século passado, com decretos que reorganizavam nosso idioma. Muitos foram derrubados em 1971.

De onde a gente conclui que, se um livro tem a modernidade de contar com uma caixinha de música, não poderia conter grafias do século passado, dentre outros absurdos.

Conto-do-vigário-de-fadas

Foi notícia esta semana o crime contra o nosso idioma cometido pela publicação do 'livro' Tesouro Musical Mágico: Princesas, com a 'chancela' da Disney.

Na boa? Eu contei, só de erros, mais de 80. Não levei em consideração outros graves problemas, como os atropelos na hora de espremer as histórias, a péssima redação — fruto provável de uma tradução equivocada do inglês — e a interminável repetição de palavras.

Todos esses 80 erros entrariam numa categoria chamada 'gato com J', ou seja, erros tão crassos que agridiriam os olhos como uma ponta de faca.

O livrinho, que traz como 'bônus' uma caixinha de música, mutila seis clássicos de Walt Disney, todos com histórias açucaradas de princesas, bruxas e afins.

Vírgulas no lugar errado, acentos desnecessários, regências ignoradas e crimes ortográficos infestam as 40 páginas do livro. Exemplos?

"Mas Branca de Neve continuava sendo alegre, e cantava com frequência..."
"Quando o príncipe e Branca de Neve se conheceram, se apaixonaram instantâneamente".
"Rápidamente pôs o vestido..."
"Cada uma das fadas presentearam..."
"Em uma das arriscadas viajens de Ariel até a superfície, nadou ao lado de um barco..."
"Sebastião, o carangueijo guardião..."
"Ele não queria ver sua filha sob o contrôle da Úrsula, então se ofereceu em troca. Uma vez que Tritão se tornou da Úrsula..."
"E por fim, Ariel fêz parte do mundo do Eric".
"Ela podia escapar da monotonía do dia-a-dia".
"E fugiu deixando Maurice sózinho e perdido".
"Porém, haviam certas coisas..."

Escrever para crianças é muito mais difícil que escrever para adultos. Os autores precisam ter a sensibilidade de não subestimá-las nem de publicar em sânscrito, por exemplo. Mas a regra número um, ao meu ver, é não errar. E essa norma vale para literatura e para livro didático.

Ninguém quer uma ditadura da Norma Culta, e acho errado blindar as crianças das informalidades da língua. Retomo o propósito deste blog: venerar o português, mostrar o valor de falá-lo e escrevê-lo corretamente, mas sem traumas.

É motivo de preocupação, porém, quando se contam inúmeros erros básicos numa obra de grande apelo, que deveria ser referência para educadores.

O que mais me espanta é que, no expediente, consta que houve uma revisão.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Tá dominado!

Muita gente não sabe, mas tem uma pá de grandes obras de nosso acervo disponível na Internet.

Este blog vai pegar frases de algumas dessas obras. Quem quiser ler mais encontrará o link para baixar o texto completo. Muitas vezes vocês precisarão do Acrobat Reader.

Começamos com o bruxo.


Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável muita cautela: ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.


Machado de Assis: A cartomante.

Efeito-caneca

Vira e mexe vocês encontrarão este termo neste blog.

É uma saída criativa ou uma alternativa cafajeste para aquelas dúvidas fatais.

Resumidamente, é assim:

- Xícara é com X ou CH?

- Não sei. Escreve caneca!

Viram? Este é o efeito-caneca.

Ainda que não seja lá muito honroso, esse esquema muitas vezes nos salva de muitas sinucas-de-bico. Vocês certamente já titubearam na grafia de algumas palavras ou não souberam usar a concordância no meio de uma frase comprida. Não tenham medo de improvisar!

Um blog de Português!?

Pode parecer, a princípio, um contra-senso.

Mas eu juro que não é: por mais que se diga que a Norma Culta passe longe da Internet, que ninguém em sã consciência vá se preocupar em escrever e falar direito em bate-papos, blogs, podcasts e o que mais surgir, sem nosso idioma a rede furaria.

Para começar, vamos esquecer esse negócio de 'Norma Culta'. É chato. Não é difícil confessar torcer o nariz diante dela. Traz consigo aquelas regras da gramática, aquela decoreba de separação de sílaba, a redação de vestibular em que não se pode cometer um deslize.

Fazer pouco da 'Norma Culta', porém, não quer dizer que este blog vá esculachar a língua. Não! Pelo contrário. Esqueçamos os paladares exóticos como o blablablá telegráfico de MSN e afins. Aqui vai ter arroz-com-feijão. O idioma no seu cotidiano, no uso corriqueiro, mas bem-aprumado. E sem chateações!

Espero, ao longo dos dias, fazer do Português um tema interessante. Para isso, não vamos perder tempo com regras, normas e exceções. Aqui vai ter tira-dúvidas? Vai. Vai ter discussão sobre polêmicas? Quem sabe!

Vai ter crucificação de gente que maltrata o idioma? Não. Não porque nosso idioma é difícil, é complicado, é cheio de detalhes cuja maioria eu desconheço. Em vez de apontar os erros, por que não mostrar as soluções?

Esse é o desafio.

Ah, vamos combinar. Norma Culta, ainda que a respeitemos, é o cacete. De agora em diante, é Alto e Bom Português.

Alto porque nossa língua é linda e deve ter o devido destaque; Bom porque deve ser correto, direito, sem vícios.

Estamos conversados?