domingo, 24 de maio de 2009

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Pode causar estranheza a vírgula colada ao travessão.

Meu tio, especialista em astrofísica - ciência que estuda a evolução e a constituição de planetas e estrelas -, vai dar uma palestra sobre o Sol amanhã.

Antes de explicá-la, acho bacana a gente entender um pouco do travessão.

Ele é mais visto em diálogos. Cada - indica alguém falando.

Mas o travessão também serve para intercalar frases em outras. Essa função, vejam bem, pode ser muito bem exercida por vírgulas ou parênteses.

A decisão sobre qual dos três usar não é uma questão de certo ou errado, é mais uma discussão de estilo. Vocês certamente encontrarão argumentos a favor e contra. Por isso, eu me sinto à vontade para dividir os meus.

O problema da vírgula numa intercalação é picotar demais a frase. Vamos pegar o exemplo lá de cima:

Meu tio, especialista em astrofísica, ciência que estuda a evolução e a constituição de planetas e estrelas, vai dar uma palestra sobre o Sol amanhã.

Viram quantas vírgulas? A frase fica capenga. O que a torna complicada é a explicação da explicação. Dizemos que meu tio é astrofísico e resumimos o que é isso.

Então, por que não usar parênteses? Aí é uma questão pessoal. Acho o parêntese um corpo estranho. Já foi dito que quem o usa não sabe escrever, porque estaria pegando um atalho malfeito para explicar qualquer coisa.

Não vejo dessa forma radical, mas eu implico com parênteses. Acho uma inserção totalmente estranha à coesão do texto. O que não sei explicar é por que não tenho essa sensação com os travessões.

Usar travessão é elegantérrimo. Você dá uma pausa, mas não insere nenhum corpo estranho; fica uma construção bem harmoniosa.

Posto isso, voltemos ao início do post: -,

Notem que desde o começo falei de inserção, de enxerto. Travessões - e a regra se aplica também a parênteses - não 'comem' nada da frase que os receberá. Eles abrem espaços e se instalam ali.

Vejam então o que acontece se, do primeiro exemplo, a gente tirar o que veio dentro do travessão:

Meu tio, especialista em astrofísica, vai dar uma palestra sobre o Sol amanhã.

Muito bem. Vamos dar uma olhada a um trechinho dessa frase:

...astrofísica, vai...

Entre astrofísica e vai tem uma vírgula. Uma, não duas; é justamente entre astrofísica e a vírgula o espaço que o travessão vai abrir.

Entenderam então por que a vírgula continua lá?

Meu tio, especialista em astrofísica - ciência que estuda a evolução e a constituição de planetas e estrelas -, vai dar uma palestra sobre o Sol amanhã.

Não acho o -, estranho. Mas tem gente que acha - e tenho aqui uma sugestão. Neste mesmo post já a usei.

Travessões - e a regra se aplica também a parênteses - não 'comem' nada da frase que os receberá.

Notem que aí em cima não tem vírgula nenhuma. No entanto, optei pelo travessão, e não por vírgulas ou - argh - parênteses.

Entendo que ali eu precisava de uma pausa importante, para dar uma ênfase. Esse destaque ficaria solto se estivesse entre vírgulas - o que cansaria o texto -, e pobre se visse trancado por parênteses.

O mais legal é que o a regra se encaixa entre o sujeito e o predicado. E nós estamos carecas de saber que separá-los por vírgula é um gato com J.

Acho mais elegante quando os travessões aparecem sem sujar muito o texto, como julgo ser o caso acima. Vejam: a frase está lá, os travessões não comem nada, mas há a observação de que a regra também se aplica a parênteses; ambas estão lá. Sem precisar de um milhão de vírgulas...

Ainda falaremos do ponto e vírgula, esse esquecido.

English go home!

Esta semana nosso prefeito sancionou lei que exige tradução para qualquer manifestação publicitária em inglês. Isso significa, na prática, que delivery é o caraleo.

Está certo nosso prefeito? Seria um exagero mandar traduzir toda propaganda? Ou estamos americanizados demais?

Para mim, não se trata de uma xenofobia. Eu procuro ver essa lei como uma garantia de carinho à nossa língua.

Quando se escolhe escrever off ou sale no lugar de liquidação, a língua portuguesa, ao meu ver, é desprezada. E não adianta dizer que as opções em inglês são mais curtas. Criatividade e, vá lá, abreviações estão aí para isso. Já vi vitrines com simpáticos LIQUI.

Cabe um parêntese: a lei não mexe em marcas. Não será o caso, por exemplo, da Pizza Hut ter de se rebatizar para Cabana da Pizza. Coisas registradas e consagradas em inglês assim permanecerão.

Exatamente por isso vejo com bons olhos essa lei. Que mal fará esquecer um pouco o inglês e dar mais atenção ao português?

Este blog o valoriza. Não bruto, feio, imposto - como hão de argumentar alguns detratores da lei -, mas criativo, lapidado. Como é o caso de escrever um em casa no lugar de entrega para 'traduzir' o famigerado delivery.

Vejam: não seria lindo não ter de traduzir e simplesmente esquecer o inglês?